D. Joãozinho diz que incêndio foi causado pelo descaso das autoridades

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Dom Joãozinho, o príncipe João Henrique de Orleans e Bragança, de 64 anos, trineto de D. Pedro II, atribui ao descaso das autoridades o incêndio que atingiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro. Para ele, houve negligência nos cuidados e na atenção ao local. D. Joãozinho frequenta o prédio desde criança e diz que o futuro do país foi afetado pela tragédia. “Há culpados, sim, ao longo das últimas décadas. E tem nome: políticas públicas erradas.”

O príncipe afirmou, durante entrevista exclusiva à Rádio Nacional na manhã desta segunda-feira (3), que vai emprestar peças do seu acervo particular para tentar restaurar parte das perdas ocorridas com o incêndio. “É uma vergonha. O sentimento é mais de revolta do que de tristeza”, afirmou D. Joãozinho. “Esse é um retrato do Brasil”, acrescentou ele indignado.

tnrgo_abr_0309184339 Chamas atingem Museu Nacional no Rio Tânia Rêgo/Agência Brasil ×     Incêndio destrói Museu Nacional no Rio - Agência Brasil/Tânia Rêgo

Para o príncipe, a responsabilidade é de todas as autoridades, sem exceção. “Os governantes têm obrigação de zelar pelo interesse público, sempre, pensando no futuro das gerações e do país”, disse. “O nosso futuro foi às cinzas hoje. Isso é muito simbólico. É o descaso total das autoridades.”

Família real

Entre os 20 milhões de itens que havia no Museu Nacional no Rio de Janeiro, estavam várias coleções relacionadas à família real brasileira. Criado em 1818 por D. João VI e com acervos que vieram dos descendentes, como D.Pedro II, responsável pela aquisição da maior coleção de múmias das Américas. No local, também estava o documento original da Lei Áurea, assinado pela princesa Isabel, filha de D. Pedro II, libertando os escravos.

“A família real brasileira nasce com o dever de servir o país independemente de quem é o governo. O homem público tem de ser um idealista”, disse ele ao ser questionado sobre o que o prejuízo representa para a família real brasileira.

*Com informações da Rádio Nacional

Manifestantes dizem que há desprezo com a ciência em protesto no museu

Um protesto de indignação e solidariedade após o incêndio no Museu Nacional no Rio reuniu uma multidão na porta da Quinta da Boa Vista na manhã de hoje (3). Com críticas ao poder público de modo geral e ao governo federal, o ato apontou descaso com a história do Brasil, com a ciência e instituições públicas de ensino e pesquisa.

Os manifestantes começaram a chegar pouco depois das 9h, mas foram impedidos de entrar na Quinta da Boa Vista por guardas municipais. O museu, que foi a residência da Família Real durante o Império, fica dentro do parque e guardava um acervo de história natural considerado o maior da América Latina, além de peças de importância antropológica vindas de diversas partes do mundo.

O protesto continuou do lado de fora do portão e houve momentos em que os manifestantes tentaram entrar, quando os portões tinham de ser abertos para a passagem de veículos. Em ao menos um desses momentos, houve uso de spray de pimenta, e o clima ficou tenso. 

A servidora e pesquisadora da Fiocruz Márcia Valéria Morosini foi ao ato prestar solidariedade aos funcionários do museu e defendeu que era preciso liberar a entrada, porque o protesto era um gesto de abraço. 

"Todos nós, brasileiros, tínhamos que estar aqui. O que se perdeu hoje é muito representativo e é muito simbólico das perdas acumuladas para a ciência do Brasil" , disse ela. "O que perdemos é uma memória do mundo. Nós éramos guardiões de uma parte da memória da humanidade."

A estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vitória Barbosa, de 18 anos, conta que foi ao protesto se manifestar contra o descaso com a universidade pública no Brasil. O museu é admistrado pela universidade, que teve outros registros de incêndio em prédios importantes nos últimos anos. "Vim protestar tanto pela universidade quanto por todos os espaços públicos de cultura e educação."

O pró-reitor de graduação da UFRJ, Eduardo Serra, negociou com a Guarda Municipal para que os manifestantes pudessem entrar na área da Quinta da Boa Vista. Segundo Serra, a entrada dos manifestantes será liberada depois que o museu for cercado por grades. O que deve ocorrer nas próximas horas.

Os portões da Quinta da Boa Vista foram fechados pelas equipes da Guarda Municipal, nesta manhã, por medida de segurança, para evitar tumultos e prevenir acidentes. Equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil permanecem trabalhando no local, que ainda oferece riscos. Cerca de 400 pessoas, incluindo servidores, estudantes e manifestantes, que já estavam no parque permanecem no espaço, mas estão sendo orientadas a ficarem afastadas do prédio.