Guerra de facções e até pistolagem ameaçam juízes eleitorais pelo país

IVIAGORA


Um clima de insegurança dificulta o trabalho de juízes eleitorais pelo país neste ano. Os problemas envolvem a guerra de facções criminosas em áreas de votação, a falta de policiais para proteger urnas eletrônicas e cartórios com sistema de vigilância precária. As histórias se repetem em várias localidades e, em algumas delas, já afetam o funcionamento da Justiça Eleitoral, como ocorreu no Acre.

Na cidade de Sena Madureira (AC), em maio passado, seis jovens que tiravam o título de eleitor deram de cara com integrantes de uma facção criminosa na saída do cartório. Mesmo sem ligação com bandidos, foram intimidados porque moram num bairro dominado pela gangue rival. Eles tiveram que se trancar no banheiro até a PM chegar.

A guerra de facções ameaça impedir o livre trânsito de eleitores no dia da votação. O juiz Fábio Alexandre de Farias fareja o problema desde abril. Ele recebeu inúmeros pedidos para instalar outra urna na escola do bairro 2º Distrito. Um grupo de pessoas queria votar no colégio para não ir a outro bairro. A diretora da escola contou que bandidos estavam por trás das solicitações, temerosos de deixar seus redutos para comparecer às urnas em território inimigo.

Farias disse que não deu tempo de abrir a nova seção de votação no colégio. Ele pediu ajuda de tropas federais para fazer a segurança na cidade e vigiar o cartório, onde serão guardadas as urnas e o dinheiro para alimentação de 548 mesários.

A situação se agrava na região de fronteira com Peru e Bolívia. “Ali a zona eleitoral não dispõe de segurança suficiente”, diz um relatório da Justiça. O documento informa que policiais bolivianos invadiram recentemente a cidade de Epitaciolândia (AC), trocaram tiros e sequestraram um brasileiro suspeito de crime, levado para a Bolívia.

Há um clima de faroeste também nos grandes centros. Em Angra dos Reis, no litoral do Rio, o juiz Carlos Manuel do Souto atua numa área cada vez mais conflagrada pela briga de facções do tráfico.

Por precaução, ele decidiu mudar três locais de votação do interior das favelas para a entrada das comunidades. O cartório guardará as urnas que serão usadas em Angra e em outros quatro municípios da região. Felizmente, o juiz tem local seguro no prédio da Justiça Estadual. É luxo perto da situação em outras regiões.

No Piauí, os juízes pediram auxílio ao Exército para tomar conta de 46 cartórios que não têm policiais para proteger as urnas, e correm risco de arrombamento. O Tribunal Superior Eleitoral autorizou tropas federais em 112 cidades, metade dos municípios piauienses.

A MAIS PRECÁRIA

Um relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgado na semana passada, revela que os prédios da Justiça Eleitoral são os mais precários em segurança no Brasil. Apenas 7% têm detector de metal contra 23% na média de outras sedes do Judiciário (trabalhista, estadual, federal e militar). As câmeras de segurança existem em apenas 12% contra 24% no geral da Justiça, e há controle de acesso de pessoas em 17% contra 34% nas outras repartições.

Em estados tomados pela violência, os juízes eleitorais só podem recorrer às Forças Armadas. O governo do Rio Grande do Norte relatou ao TRE um déficit de 70% no efetivo da Polícia Civil e de 30% no da PM. Admitiu “a impossibilidade de garantir a segurança das eleições 2018”.

Diante desse quadro, a juíza eleitoral da cidade de Venha Ver, Erika Souza, pode decretar toque de recolher na véspera da votação, como fez em 2016. Um grande número de pistoleiros circula na cidade.

—É comum as pessoas andarem armadas ou terem armas em casa. Muitos se aglomeram nos locais de votação. Eu peço para dispersar, mas a força de um juiz é insuficiente, diz Erika.

Em São Bento do Trairi, na divisa com a Paraíba, a juíza Giselle Cortez teme ameaças a funcionários como as que ocorreram no pleito municipal. Um grupo ligado a políticos impediu a retirada das urnas após a votação. A PM usou bombas para dispersar as pessoas.

A vida de juiz eleitoral também não é fácil no Amazonas. No município de Japurá, bem maior que o Estado do Rio, a juíza Tamiris Gualberto demora 12 horas para chegar ao cartório, se tomar avião em Manaus, aterrissar em Tefé e embarcar numa lancha veloz.

— Em caso de emergência, há grande dificuldade de acesso ao município em razão da distância. Por isso, toda a preparação é feita de forma antecipada, inclusive a chegada de reforço federal, afirmou.

O município vizinho de Fonte Boa, com 23 mil habitantes e área dez vezes maior que a cidade do Rio, tem apenas três policiais.

—As eleições são acaloradas, sendo comuns tentativas de invasão ao cartório, diz o juiz Yuri Caminha. Os dois municípios terão tropas federais. Com informações do Jornal O Globo.