Idosa que não 'produz' sangue luta contra câncer raro: 'Desmaiei de susto'

IVIAGORA


Uma aposentada de São Vicente, no litoral de São Paulo, tem lutado bravamente contra uma doença extremamente rara. Edelea Piccirillo, de 70 anos, foi diagnosticada com um tipo de câncer que interrompe a produção de células sanguíneas e, consequentemente, ao menos uma vez por mês, ela precisa ir ao hospital para receber uma transfusão de sangue.

Desde a descoberta da doença, em maio deste ano, Edelea recebe cuidados das irmãs mais novas. A mielodisplasia é considerada um tipo de câncer em que a medula produz células defeituosas ou ainda sem o amadurecimento suficente para a corrente sanguínea, e tem como consequência a presença de anemia, infecções e sangramentos frequentes, que podem gerar complicações graves.

Segundo Valdelice dos Santos, irmã da aposentada, a doença é bastante rara. "Descobrimos a mielodisplasia depois que ela passou em um cardiologista por conta de um pico de pressão alta. Ele pediu exames de rotina e, quando retornamos, falou que ela estava com uma anemia muito forte e nos passou para o hematologista", conta.

Após diversos exames inconclusivos, a mielodisplasia foi descoberta. "Quase morri quando a médica falou o que eu tinha. Eu cheguei a desmaiar no consultório ao receber a notícia. Imagine, nunca tive doença nenhuma, estou com 70 anos e agora que apareceu isso. Foi simplesmente horrível", relembra Edelea.

  Edelea, de 70 anos, necessita de transfusão ao menos uma vez por mês — Foto: Arquivo Pessoal

Edelea, de 70 anos, necessita de transfusão ao menos uma vez por mês — Foto: Arquivo Pessoal

Edelea precisa receber bolsas de sangue ao menos uma vez por mês. De acordo com a irmã, a bolsa 'sustenta' a aposentada por algumas semanas, mas logo em seguida ela volta a sentir o mal-estar. "Ela toma uma bolsa e depende de quanto tempo o organismo vai segurar o sangue. Às vezes em um mês, às vezes em 15 dias precisamos voltar para o hospital pois ela fica fraca", explica.

Além do mal-estar ao não receber a transfusão, Edelea passa mal também logo após receber a bolsa de sangue. "Na última bolsa de sangue que recebeu, ela teve reação de tremor, vomitou e ficou muito mal no primeiro dia após a transfusão. Nos dias seguintes ela vai melhorando, mas sempre ficamos bem preocupados", conta a irmã.

Atualmente, Edelea faz parte de uma rede que é referência no tratamento de câncer. No hospital Guilherme Álvaro, em Santos, ela passa por oncologistas e hematologistas "Minha médica pediu exames para ver que tipo de remédio vou precisar tomar. Acho que com isso conseguiremos controlar as transfusões. Espero não precisar mais. Tenho esperança", finaliza Edelea.

 

Mielodisplasia

 

De acordo com o médico hematologista e professor na Unimes José Carlos Medina Carvalho, a síndrome mielodisplásica é uma doença da medula óssea. "Os maiores problemas decorrentes da doença são anemia, leucopenia e plaquetopenia, fazendo com que o paciente necessite de transfusões sanguíneas, prevenção e tratamento de infecções e hemorragias e tratamento das comorbidades que apresente", explicou.

Ao longo dos anos, segundo o especialista, a tendência é evoluir para uma leucemia aguda, de acordo com o especialista e, ainda, além das transfusões sanguíneas, podem ser utilizadas injeções para estimular a medula óssea a produzir glóbulos vermelhos, assim como fator estimulante do crescimento de neutrófilos.

A incidência global da doença é de 4,9 casos a cada 100 mil habitantes. Nos idosos acima de 70 anos pode chegar a 40 casos/100.000 habitantes/ano. "O diagnóstico é feito por meio da história clínica com antecedentes pregressos de enfermidades ou tratamentos quimioterápicos ou radioterápicos, associados a exames de sangue, medula óssea com análise citogenética e biópsia de medula óssea", finaliza.