Política
‘Se Flávio errou, terá de pagar e eu lamento como pai’, diz Bolsonaro sobre novos indícios
IVIAGORA
Na suíça para o Fórum Econômico Mundial, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que “lamenta como pai” as acusações contra o filho, deputado estadual e senador eleito pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro (PSL), e defende que ele “pague o preço”, caso irregularidades sejam comprovadas no caso envolvendo o ex-assessor do herdeiro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), Fabrício Queiroz.
Questionado em entrevista à Bloomberg, Bolsonaro dispara: “Se por acaso ele [Flávio] errou e isso for provado, eu me arrependo como pai, mas ele terá que pagar o preço por essas ações, que não podemos aceitar”, limitou-se a dizer.
Essa é a primeira manifestação pública de Bolsonaro desde que novos indícios de movimentações financeiras suspeitas e ligações de Flávio e sua equipe da Alerj com milicianos vieram à tona. A Bloomberg afirma, conforme a Folha de São Paulo, que o caso pode colocar em risco a agenda ‘anticorrupção’ e a base aliada de Bolsonaro no Congresso.
Depósitos suspeitos
O herdeiro de Bolsonaro recebeu 48 depósitos de R$ 2 mil cada um entre os meses de junho e julho de 2017, totalizando R$ 96 mil, conforme relatório do Coaf (Conselho de Operações Financeiras) divulgado pela TV Globo na semana passada.
A movimentação gerou suspeitas, já que os depósitos foram fracionados e depositados na conta de Flávio, ao longo de cinco dias, na agência bancária da própria Alerj. O senador eleito justifica dizendo que os depósitos foram fruto da venda de um imóvel ao ex-jogador de vôlei de praia, Fábio Guerra.
Guerra disse à Folha de São Paulo que entregou R$ 100 mil a Flávio como parte do pagamento, mas as datas dos depósitos não coincidem com à data que consta no registro de venda da cobertura localizada no Bairro das Laranjeiras, centro da capital carioca.
Flávio empregou familiares de milicianos
Mãe e esposa do ex-capitão da Polícia Militar, considerado foragido, Adriano Magalhães da Nóbrega, suspeito de comandar milícias cariocas, ganharam emprego de Flávio na Alerj e só foram exoneradas em novembro passado. Flávio diz que a indicação foi feita pelo ex-assessor Fabrício Queiroz, o que ele admitiu em nota.
Coincidentemente, a mãe do ex-capitão, Raimunda Veras Magalhães também foi citada nos relatórios do Coaf, por ter repassado R$ 4,6 mil a Queiroz. Também coincidentemente, ela é sócia de um restaurante que fica em frente a outra agência bancária, onde foram feitos 18 depósitos em espécie a Queiroz.
Em nota, segundo a Folha de São Paulo, Flávio disse que Raimunda foi contratada e atuou sob supervisão de Queiroz e que “não pode ser responsabilizado por atos que desconhece”. A defesa de Queiroz confirmou a indicação, mas negou envolvimento com milicianos. Alegou também que “a divulgação de dados sigilosos obtidos de forma ilegal constitui verdadeira violação aos direitos básicos do cidadão”.
O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) conciliou, entre dezembro de 2000 e junho de 2002, o curso da faculdade de Direito da Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, um estágio na Defensoria Pública do estado e também um cargo na liderança do PPB — antiga denominação do PP — na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Segundo reportagem publicada pela BBC News Brasil, Flávio ocupou um cargo de 40 horas semanais na Câmara, onde o trabalho era presencial, ao mesmo tempo em que se dedicava às outras ocupações no Rio. Procurada pelo EXTRA, a Câmara dos Deputados confirmou que Flávio foi funcionário da liderança do PPB, então partido de seu pai, Jair Bolsonaro, quando este exercia o terceiro mandato como deputado federal.
Flávio Bolsonaro ocupou cargo na Câmara e estágio no Rio
A Câmara não informou quanto Flávio recebeu pelo posto de “assistente técnico de gabinete”, mas o montante consta da declaração de Imposto de Renda dele fornecido à Justiça Eleitoral.
Em 2002, ao se candidatar à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Flávio declarou ter recebido, em 2001, R$ 4.712 por mês por desempenhar a função.
O curso na Cândido Mendes e o estágio na Defensoria são informados pelo parlamentar na rede social LinkedIn e no site da Alerj. Não há, entretanto, referência à passagem pela liderança do PPB em ambas as publicações.
O EXTRA procurou Flávio Bolsonaro para falar sobre o assunto, mas a assessoria de imprensa do parlamentar afirmou que ele prefere não se manifestar. O senador eleito também não quis falar com a BBC.
Ainda de acordo com a reportagem da BBC Brasil, o controle de presença de Flávio Bolsonaro entre dezembro de 2000 e junho de 2002 era feito por meio de folha com a frequência mensal, em vez de ponto diário. Ou seja, o gabinete da liderança do PPB enviava todo mês à direção da Câmara um relatório com os dias em que Flávio trabalhou.
O mesmo cargo de Flávio na Câmara foi ocupado antes por Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro, que deixou o cargo uma semana antes de ser substituída.