Política
'Responsabilidade daqui para frente é do governo', diz Maia sobre reforma da Previdência
IVIAGORA
A relação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o governo Jair Bolsonaro mudou. Reconhecido por deputados como fiador da reforma da Previdência,Maia sinalizou que vai esperar o Planalto tomar as rédeas da articulação política para coordenar a votação da proposta. Ele não irá mais ajudar a negociar a participação de partidos no Executivo.
A primeira parada do texto é a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde já não há certeza sobre maioria para a votação. Nos últimos dias, Maia demonstrou insatisfação com ataques feitos por Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Procurado pelo GLOBO, Maia disse que continua a defender a reforma da Previdência.
Vou pautar (a reforma) quando o presidente disser que tem votos para votar. A responsabilidade do diálogo com os deputados daqui para frente passa a ser do governo. É ele que vai negociar com os deputados. A reforma da Previdência continua sendo a minha prioridade, mas essa responsabilidade de articular com os deputados para construir uma base sólida é do presidente da República, não do presidente da Câmara. Ele tem que articular diretamente, chamar os presidentes dos partidos, as bancadas, ou não chamar e ver no que dá — disse Maia.
Nesta sexta-feira, ele também reagiu nas redes sociais a um comentário da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP). Após o jornal “O Estado de S. Paulo” publicar que Maia avisou, em conversa com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que poderia deixar a articulação política da reforma, a parlamentar perguntou se o presidente da Câmara estaria “pensando no Brasil”.
“Se ele gosta do Presidente e de seus filhos não importa. O que importa é que trabalhe pelo que é melhor para o Brasil! O país precisa da Reforma. A questão é matemática!”, escreveu Janaina.
A resposta de Maia foi curta: “Nunca vou deixar de defender a reforma da Previdência”. Antes disso, ele postou um comentário do deputado Domingos Neto:
“Não é uma estratégia inteligente de parte da militância do Presidente da República @jairbolsonaro em hostilizar o Presidente @RodrigoMaia. Todos percebem que o Rodrigo é o maior articulador da reforma, e a turma do propositor dela ataca seu maior defensor… Inacreditável”, postou o parlamentar.
Maia tem sido aconselhado por aliados a pressionar o governo pela desorganização na Câmara. Desde que a reforma dos militares chegou à Casa, com um plano de reestruturação de carreira, deputados criticam a possível reivindicação de privilégios para outras categorias.
Na quinta-feira, o adiamento da escolha de um relator para a reforma na CCJ já tinha exposto a ausência de articulação política do governo no Congresso. Felipe Francischini (PSL-PR), presidente da comissão, admitiu a deputados que “não sabe com quem falar” para organizar um bloco favorável ao projeto, acrescentando que “a base do governo não existe”. Nesta sexta-feira, ele foi recebido pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Francischini tem dito que a tendência das discussões na comissão é favorecer a oposição. Ele prevê, inclusive, que os questionamentos a Paulo Gudes, na terça-feira, possam durar mais de seis horas. Quando assumiu o cargo, o deputado disse que passaria a monitorar a intenção dos deputados e atualizar constantemente o placar. Na quinta-feira, ao falar sobre o caso, externou a aliados que a maioria das respostas que recebe segue a linha do “não sei, vamos ver”.
Enquanto isso, a posição de Joice Hasselmann (PSL-SP) como líder do governo no Congresso é contestada na própria bancada do PSL. Segundo um deputado do partido ouvido pelo GLOBO, parte bancada rejeita a forma como ela tenta conduzir a articulação. Elevada ao cargo por escolha de Maia e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ele diz que “liderança não se ganha, se conquista”. Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara, também não demonstra capacidade de costurar qualquer apoio. Até agora, apenas 54 deputados do PSL formam a base.
Após a entrega do projeto dos militares, oposicionistas começaram a acreditar que o placar da votação na comissão será mais apertado do que o previsto inicialmente. Mesmo que a admissibilidade da reforma seja aprovada, uma diferença pequena na margem de votos pode significar uma expectativa de enfraquecimento do texto em comissão especial.
O presidente Jair Bolsonaro na chegada ao Congresso para entrega da proposta que muda o sistema de Previdência dos militares Foto: Will Shutter / Câmara
Deputados já falam em convidar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) , Luiz Fux, para falar sobre o sistema de capitalização. Ele já defendeu o sistema que vigora atualmente , o de repartição, e afirmou que os princípios contributivos e de solidariedade na Previdência são cláusulas pétreas. Portanto, não poderiam ser modificados pelo Congresso.