Números da violência doméstica em MS impressionam até juíza: 'É difícil ser mulher neste mundo'

IVIAGORA


Todos os dias, ao menos 20 mulheres procuram a Casa da Mulher Brasileira em Campo Grande (MS) em busca de medidas protetivas contra seus companheiros violentos, de acordo com Jacqueline Machado, titular da 3ª Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em MS. Em visita à TV Morena nesta terça-feira (23), a juíza falou ao G1 sobre os números da violência doméstica em MS.

Os números da violência doméstica em MS este ano impressionam até mesmo a juíza, que atuou por 15 anos no interior antes de vir para a capital, em 2016: "São 14 feminicídios de janeiro a abril, uma média de 600 boletins de ocorrência por mês, 3.500 medidas protetivas, isso prova que apesar de todo o nosso trabalho de conscientização, a violência não diminui. É muito difícil ser mulher neste mundo", declara.

Entre as mulheres que, invariavelmente, chegam à Casa em situação de vulnerabilidade, feridas física e psicologicamente, alguns casos marcaram pelo nível de tortura a que foram submetidas por seus próprios conviventes. Casos que, segundo a juíza, descortinam a gravidade do machismo convertido em agressão:

"Uma mulher me contou que sofria violência física e psicológica por parte de seu marido há mais de 30 anos. Eu a orientei a denunciar, ela registrou ocorrência e pediu medida protetiva. Depois de um tempo o homem pediu perdão, disse que estava mudado, começou a frequentar igreja e eles reataram. No dia que eu soube, disse a ela que tomasse cuidado, que ninguém muda assim do nada. Não tive mais notícias dela até saber, este ano, que ela tinha sido vítima de feminicídio, foi assassinada pelo marido", relata.

Jacqueline diz que a medida protetiva contra o agressor ainda é a melhor forma de se proteger: "É uma maneira de mantê-lo afastado sob pena de prisão caso seja descumprida, e dizer que a Justiça está ciente de seu comportamento violento". Das 14 mulheres vítimas de de feminicídio em MS este ano, apenas uma tinha medida protetiva contra o companheiro.

"São mulheres que morreram simplesmente porque terminaram seus relacionamentos ou queriam fazê-lo. Um homem mata porque despreza a mulher, e se ele não pode dominar, tem que exterminar. É posse, é puro machismo, um comportamento, infelizmente, enraizado em nossa sociedade."

 "Trabalhar na Casa da Mulher faz a gente perceber que não sabemos um terço do que acontece nos lares brasileiros. Na hora que a você vê aquela mulher chegando machucada, com os filhos pequenos, arrasada, a gente se dá conta que um dos lugares mais perigosos para uma mulher é dentro de casa."

 

A juíza afirma que o dado nacional, em uma década, é ainda mais alarmante: "Em 10 anos, 40 mil mulheres morreram vítimas de violência no Brasil, isso é um estado de guerra".

Em Mato Grosso do Sul, 12 projetos de combate à violência contra a mulher estão em vigor, entre eles, um grupo de apoio para vítimas e um de conscientização para agressores: "Muitas vezes nem o homem entende por que tem um bom comportamento fora de casa, mas no ambiente doméstico, agride a esposa, a mãe, a filha. Combater isso é uma luta diária e um compromisso de todos nós", finaliza.