“Atrevimento de Bolsonaro não tem limites”, diz decano do STF

IVIAGORA


O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, reagiu com indignação à divulgação de um vídeo por Jair Bolsonaro em seu Twitter que retrata o STF, partidos políticos e outras instituições como hienas que tentam ataca-lo, retratado como um leão. 

Para Celso de Mello, o vídeo, que foi apagado posteriormente, evidencia que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites”.

“Esse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de 'gravitas' e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República”, afirmou o decano em manifestação para a Folha de S. Paulo.

Entre as hienas exibidas no vídeo aparecem algumas identificadas como STF, PSL, partidos de esquerda como PT e PSOL, CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e veículos de imprensa, incluindo a Folha.

Veja a íntegra da resposta enviada pelo ministro Celso de Mello:

A ser verdadeira a postagem feita pelo Senhor Presidente da República em sua conta pessoal no “Twitter”, torna-se evidente que o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções, pois o vídeo que equipara, ofensivamente, o Supremo Tribunal Federal a uma “hiena” culmina, de modo absurdo e grosseiro, por falsamente identificar a Suprema Corte como um de seus opositores.

sse comportamento revelado no vídeo em questão, além de caracterizar absoluta falta de “gravitas” e de apropriada estatura presidencial, também constitui a expressão odiosa (e profundamente lamentável) de quem desconhece o dogma da separação de poderes e, o que é mais grave, de quem teme um Poder Judiciário independente e consciente de que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, está acima da autoridade da Constituição e das leis da República.

É imperioso que o Senhor Presidente da República —que não é um “monarca presidencial”, como se o nosso país absurdamente fosse uma selva na qual o Leão imperasse com poderes absolutos e ilimitados— saiba que, em uma sociedade civilizada e de perfil democrático, jamais haverá cidadãos livres sem um Poder Judiciário independente, como o é a Magistratura do Brasil.

 

ARREPENDIMENTO

Depois de ser repreendido pelo ministro Celso de Mello por seu “atrevimento”, ao postar um vídeo em que retrata a suprema corte como uma hiena que o ameaçaria, Jair Bolsonaro pediu desculpas e prometeu se retratar. "Foi uma injustiça, sim, corrigimos e vamos publicar uma matéria que leva para esse lado das desculpas. Erramos e haverá retratação", disse

Em meio ao mal-estar resultante de um vídeo veiculado em suas redes sociais onde se mostrava como um leão sendo atacado por hienas que levavam o símbolo de instituições como o Supremo Tribunal federal (STF), Jair Bolsonaro disse que a publicação foi um “erro” e uma “injustiça” e que, por isso, pedia “desculpas públicas” à Corte. 

"Me desculpo publicamente ao STF, a quem por ventura ficou ofendido. Foi uma injustiça, sim, corrigimos e vamos publicar uma matéria que leva para esse lado das desculpas. Erramos e haverá retratação”, disse Bolsonaro ao jornal O Estado de S. Paulo durante sua viagem à Arábia Saudita. 

Mais cedo, Bolsonaro havia abandonado uma entrevista coletiva ao ser questionado sobre a reação do ministro do STF Celso de Mello ao vídeo, que foi apagado cerca de duas horas após ter sido publicado. No vídeo, partidos de oposição ao seu governo, como o PT e o PSOL, além da sua própria legenda, o PSL, e instituições como a ONU também foram retratados como hienas. 

Ainda segundo Bolsonaro, o vídeo foi veiculado “sem o devido cuidado” e que sua equipe teria sido orientada para evitar publicações do gênero.  "O vídeo não é meu, esse vídeo apareceu, foi dada uma olhada e ninguém percebeu com atenção que tinham alguns símbolos que apareciam por frações de segundos. Depois, percebemos que estávamos sendo injustos, retiramos e falei que o foco são as nossas viagens", ressaltou. 

Ele também disse que o filho Carlos Bolsonaro, que já admitiu realizar publicações em suas contas nas redes sociais, não pode ser responsabilizado pelo episódio. "Não se pode culpar o Carlos. A responsabilidade final é minha. O Carlos foi um dos grandes responsáveis pela minha eleição e é comum qualquer coisa errada em mídias sociais culpá-lo diretamente. A responsabilidade é minha, tem mais gente que tem a senha e não sei por que passou despercebido essa matéria aí", disse.