Após passar 26 dias em coma, Edgar fala sobre a batalha contra o novo coronavírus

IVIAGORA


O novo coronavírus pegou o mundo de surpresa. Se juntar com amigos passou a ser uma arma letal que pode acabar com a sua vida e de seus familiares. Com mais de 7 mil mortes pela doença no Brasil, o trabalho de profissionais da saúde para salvar vidas é incessante. Aqui em Campo Grande, a de Edgar foi uma delas.

O fotógrafo e cinegrafista campograndense de 51 anos Edgard das Neves Pereira tinha uma rotina normal em casa e trabalhava durante a noite, principalmente. Em março, tinha acabado de fazer exames que estavam normais. O cinegrafista tomava remédios para controlar a pressão arterial e diabetes.

Começou a sentir dores fortes no corpo, diarreia e dor de cabeça. Edgar foi ao Unidade de Pronto Atendimento do Vila Almeida e voltou pra casa medicado. Após 5 dias, voltou com fadiga à UPA e desmaiou antes de receber atendimento. Foi encaminhado para o Hospital Regional onde permaneceu 2 dias em observação, onde o teste para o Covid-19 deu positivo.

“As tomografias que fiz estavam inconclusivas. Pelos exames de sangue fora do normal, decidiram me transferir para o CTI com a justificativa ‘cuidar melhor de mim’. Fui levado entubado e em coma induzido, e lá os testes confirmaram. Foi muito forte o que eu vivi, foram dias muitos tensos”, relembra Edgard.

O cinegrafista ficou em coma por 26 dias, 21 deles em estado gravíssimo. Após isso ficou mais 6 dias no CTI e 8 em recuperação após receber alta. Sobre a experiência, Edgard conta que acordar do coma foi difícil e cada dia uma nova vitória.

“Quando acordei do coma, ainda foi difícil. Pra mim eu tinha simplesmente apagado e acordei. Ainda estava com a traqueostomia e sonda de alimentação. Felizmente tive o acompanhamento da minha esposa. Voltei a falar apenas na semana passada. Cada dia foi uma vitória, mas queria ressaltar a mão de Deus e a minha esposa. Poder vê-la, conversar com ela pelo telefone, com minhas filhas… isso me deu um desejo a mais de sair de lá”, conta Edgard sobre o momento delicado para a família.

Além de agradecer o apoio da família durante a experiência traumática, o Edgard reforça que a equipe de profissionais foi primordial para que sua recuperação acontecesse de forma fantástica. Todos, médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, fonoaudióloga, fisioterapeuta, cuidaram do fotógrafo com esperança.

“Você pessoas diferentes, tratando pessoas que nunca viram como se fossem familiares, sempre dando uma palavra de incentivo com um carinho. Tinham enfermeiras que chegam rindo, brincando comigo e diziam: ‘Você vai sair daqui, já saiu do coma. Logo logo vai estar na sua casa com sua família’. Profissionais que me deram um suporte muito grande. A rotina se tornou menos dolorosa e traumática pelo profissionalismo”.

Em casa desde terça-feira (28), e ainda de quarentena sem sair de casa, Edgard passa por acompanhamento de fisioterapeuta e fonoaudióloga. No processo, perdeu de 10 a 15kg de massa magra. Devido ao coma, os músculos ficaram muito retraídos e por isso necessitam de exercícios para voltar à funcionalidade. Outro reaprendizado foi com a alimentação, antes por sonda e hoje com alimentos em uma dieta mais rígida.

Perguntado sobre onde teria contraído o vírus, o fotógrafo diz não saber exatamente mas suspeita de uma reunião de amigos da juventude, alguns vindos de outros países, feita no início de março. Dessa festa, saíram mais de 10 contaminados com o novo coronavírus. Todos presentes estavam assintomáticos na ocasião. Por isso, Edgard frisa a necessidade do isolamento social.

“Não vai durar para sempre, é por um tempo. As pessoas tem que entender que se queremos diminuir a situação drasticamente para que nossa vida volte ao normal, temos que ter cuidados. Nós, cidadãos, precisamos tomar decisões mais drásticas porque senão viveremos uma eterna epidemia. Usar máscara, lavar as mãos, se for o caso até usar luvas, mas que não deixem de fazer isso”, finaliza.