Casal morre em intervalo de quatro horas , vítima do novo coronavírus

IVIAGORA


Quatro irmãos do Camarista Méier, no Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio, ainda não conseguiram assimilar a morte dos pais por causa do novo coronavírus. No fim da noite de sábado, às 23h, o motorista de ônibus Anníbal Amaral, de 54 anos, morreu no Hospital do Andaraí, também na Zona Norte, vítima da Covid-19. Na mesma unidade de saúde, a mulher dele, Dívia Amaral, de 40 anos, morreu poucas horas depois, às 3h15 da madrugada do domingo, já no Dia das Mães, também por causa da doença.

 É uma dor insuportável receber uma notícia dessa sobre pessoas que você ama, que você tem como base — diz a filha mais velha do casal, Rayanne Vale, de 25 anos.

O casal deixa ainda Paloma, de 19 anos, Victor, de 17, e Peter, de 12. Os dois filhos do meio apresentaram sintomas do novo coronavírus, mas melhoraram e não precisaram ir ao médico; por isso, não fizeram o exame. Eles se amparam uns nos outros e contam com a ajuda dos tios, que moram na mesma comunidade.

Anníbal dirigia na linha 606 (Engenho de Dentro - Rodoviária). Seu cunhado, Pedro Vale, (que também teve sintomas, mas, assim como os sobrinhos, melhorou sem ajuda médica), conta que ele começou a sentir os sintomas na segunda-feira da semana passada. Febre, calafrios e dores no corpo. O mesmo sentiu Dívia, que era asmática e obesa. Ela internou na terça-feira. Anníbal, na quarta.

 

Anníbal, Dívia, Victor, Paloma e Peter

 

 

Anníbal, Peter, Dívia, Rayanne e Victor

 

— Quando o telefone tocou, às 4h da manhã, e informaram que era do hospital, pronto, eu já sabia o que tinha acontecido. E quando pediram os documentos dos dois, foi desespero total — relata Pedro, que recebeu a notícia da morte da irmã e do cunhado e ficou responsável por avisar aos sobrinhos.

Rayanne conta que no início conseguiam falar com Dívia, que levou o celular para o hospital. Mas, quando ela foi para o CTI, a família ficou sem notícias. Na quinta-feira, ela e a irmã, Paloma, foram à unidade.

— Quando chegamos lá, falaram que o dia para receber informação era sábado. Mas um fisioterapeuta comentou que minha mãe estava bem e acordada. Na sexta-feira, ligaram para e pediram para irmos no sábado à tarde para conversar sobre nosso pai. Lá, falaram que ele tinha piorado e estava entubado, com uma infecção grave nos pulmões — conta Rayanne.

Naquela mesma tarde de sábado, a família soube que Dívia também estava entubada. Não demorou para receber, na madrugada de domingo, a triste notícia da morte do casal.

— Minha mãe tinha crise de asma e bronquite. E sobre meu pai, o médico falou que era complicado, que o respirador já não dava mais conta — explica Rayanne.

O sepultamento de Anníbal e Dívia está marcado para esta terça-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio, às 15h.

*Estagiário sob supervisão de Ana Carolina de Souza